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Por: Leonardo Feitosa
Voluntário do Orla Viva - MA
Graduando no curso de Ciências Biológicas-UFMA
A beleza
dos recifes de corais é realmente singular. Nenhum outro ecossistema no planeta
é capaz de ter tanta variedade de espécies e de filos em relação ao espaço
ocupado. Nem mesmo a Floresta Amazônica, também conhecida por sua grande
biodiversidade, supera os recifes de coral. O maior recife do mundo localiza-se
na Austrália, com aproximadamente 1200 km de extensão. Conhecido como A Grande
Barreira de Corais, ele é considerado a maior estrutura de organismos vivos que
existe no mundo.
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A Grande Barreira de Corais é o maior recife de corais do mundo. |
Os
corais não são algas, como muitas pessoas acham. Corais são colônias de animais,
mais precisamente cnidários da classe Anthozoa, que, em sua grande maioria, vivem em simbiose com seres microscópicos fotossintetizantes - zooxantelas.
Estes se alojam em pequenas cavidades existentes no corpo dos corais e realizam
fotossíntese. Assim, parte de sua produção autotrófica é absorvida pelos
corais, além de obterem proteção contra os raios UV através dos pigmentos das
zooxantelas. Do lado das microalgas simbiontes, elas são beneficiadas pelo
abrigo que os corais proporcionam e a alta disponibilidade de nutrientes
provenientes da excreção dos corais. Esses seres minúsculos são os principais
responsáveis pela saúde desse ecossistema. Algumas espécies de corais como o
Coral-Bolha (Plerogyra sp.) podem ser heterotróficas, se alimentando de
plâncton ou matéria orgânica dissolvida.
O
interessante dos corais é como eles surgem. Durante o ciclo de vida dos
cnidários, muitas espécies apresentam duas formas: a medusóide (vida livre) e a
polipóide (séssil). Quando colônias de formas polipóides se alojam em um mesmo
local, cada pólipo começa a secretar um fino esqueleto calcário próprio, mas
que está conectado com os outros indivíduos da colônia. Com o passar do tempo,
esses esqueletos vão crescendo e os corais aumentando. Assim, eles colonizam
ambientes antes inabitados e atraem animais maiores como peixes ósseos,
tubarões, raias e mamíferos marinhos constituindo um ecossistema rico e
diversificado.
Mas, infelizmente, nem tudo está lindo e saudável.
Pesquisadores da Universidade de Queensland realizaram um monitoramento durante
27 anos na Grande Barreira de Corais e descobriram que, no decorrer desse
tempo, a barreira perdeu metade de sua cobertura de corais. Isso corresponde a
50 mil km² de corais! A causa principal apontada pelos cientistas é a grande
quantidade de tempestades que têm assolado a região nos últimos anos. A
superpopulação da estrela-do-mar-coroa-de-espinhos e o branqueamento dos corais
representam os outros motivos para tal declínio.
Esse
quadro não se restringe apenas a esse recife de corais. Muitos recifes mundo
afora estão em processo de degradação, principalmente pelo branqueamento dos
corais. Mas, como funciona isso? Bom, é até que simples de entender. Pelo fato
dos corais viverem em simbiose com as zooxantelas, eles precisam de
características ambientais estáveis para se manterem saudáveis. O processo de
aquecimento global é apontado como a principal causa pelas mortes de recifes de
coral por todo o planeta, pois ele mata as microalgas e, consequentemente, os
pólipos que constituem os corais. Assim, todo o ecossistema entra em colapso.
Medidas como as existentes em regiões do Caribe
e do Pacífico estão surtindo efeito rápido. O “cultivo” de corais é um sucesso.
Comunidades inteiras de corais estão sendo cultivadas em locais chamados de
“fazendas de corais” e os resultados são animadores. Depois de saudáveis, eles
são reintroduzidos aos recifes e espera-se que voltem a tornar o ecossistema
saudável.
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Exemplo de uma fazenda de corais. |
Temos a tendência de pensar no ambiente marinho
como um lugar estável, forte e à prova de danos causados pelos homens.
Justamente pelo fato de ser um ecossistema tão dependente de espécies
extremamente adaptadas a certas características, é que os recifes de coral se
tornam ambientes frágeis. Se quisermos manter o funcionamento da indústria
pesqueira que tantos países são dependentes, precisamos manter os recifes
saudáveis. Mas, mais importante do que o fator econômico, a saúde do planeta
depende desses pequenos seres.