O mar é um mundo sem esconderijos...
Por:
Elias da Costa Araujo Junior
Voluntário da ONG Orla Viva
Graduando em Ciências Biológicas/UFMA
“[...] Mesmo uma ampla distribuição difundida por todo um
continente não é capaz de salvaguardar uma população vulnerável.” (Gould.
1993).
O ambiente marinho sem dúvidas é um grande espetáculo da vida,
englobando diversidade genética, de espécies e ecológica. Já foram descritas
milhares de espécies marinhas agrupadas em vários filos e com uma gama de
estratégias adaptativas, desde os peixes “voadores” aos organismos bioluminescentes.
No entanto, acredita-se que ainda existam muitas espécies que não são
conhecidas e outras que foram extintas antes mesmo de se descobrir a
existência, nicho ou suas funções em ecossistemas. No Brasil, por exemplo,
supõe-se que apenas 10% da biodiversidade de invertebrados marinhos são conhecidas.
Talvez esse déficit nos dados e no entendimento da riqueza de espécies seja
decorrente, principalmente, do difícil acesso a certas zonas dos mares e oceanos.
Isso, de fato, é comprovado nos registros que temos hoje a nossa
disposição. Organismos de hábito bentônico das regiões de entremarés ou típicos
de zonas com pouca profundidade são relativamente os mais conhecidos e
catalogados, enquanto que os das zonas afóticas ou abissais, em sua maioria,
são no máximo protagonistas em documentários recentes.
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Figura 01: Esquema
ilustrativo da biodiversidade marinha.
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Talvez este seja o ponto chave de uma questão debatida, comentada e
divulgada nas últimas décadas pelos meios de comunicação, - a extinção de
espécies marinhas. Sabemos que para preservar é necessário conhecer, certo?
Antes de responder essa pergunta, pensemos... será se os ecossistemas aquáticos
estão sujeitos a desequilíbrios ecológicos? Os animais que vivem nas águas do
mar estão a salvo da destruição de sua espécie pelo homem?
Esses questionamentos permeiam o campo da ciência há certo tempo.
Voltando ao século XIX, podemos perceber que naquela época muito se falava no
oceano como um refúgio seguro para os organismos (me refiro aqui às
intervenções antrópicas). Lamarck foi otimista ao excluir de suas ideias o
desaparecimento de espécies pela ação do homem, com exceção aos animais de
grande porte que vivem em terra firme. Hoje, sabemos que a história não
funciona bem assim, já que organismos foram extintos e uma proporção
considerável encontra-se ameaçada. Tartaruga Marinha, Baleia Jubarte, Leão Marinho...
sabe o que esses animais têm em comum? Além de seres espetaculares, todos já
foram considerados praticamente extintos, em razão da depredação humana.
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Figura
02:
Barcos de turistas podem interromper
a amamentação dos filhotes de Baleias Jubarte e o repouso das fêmeas (FONTE:
Ciência Hoje).
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Um recente estudo realizado pelo Greenpeace evidenciou que entre os animais marinhos
comercializáveis, aproximadamente 80% corre o risco de ter como destino à
extinção. O mais preocupante é que os danos podem ser incalculáveis, como um
intenso desequilíbrio no ecossistema, principalmente se uma espécie chave for
extinta. Os números são assustadores porque muitos organismos possuem uma baixa
distribuição ou até mesmo àqueles com uma ampla distribuição estão ameaçados
(vide epígrafe).
Quem não lembra do vazamento de petróleo no Golfo do México? Esse desastre
ambiental, por exemplo, afetou a dinâmica de populações de diversos animais
como os cetáceos e tartarugas. No entanto, esse evento colocou em risco outros
animais espetaculares característicos das regiões afetadas, como o Hippocampus
zosterae, conhecido popularmente
como cavalo-marinho-anão. Segundo informações da Project Seahorse, a
espécie foi ameaçada de extinção porque o derramamento do petróleo ocorreu
durante o período reprodutivo desses animais e estes são típicos das águas da
costa do Golfo, além de terem como hábitat as zonas próximas à superfície do
oceano. Embora o problema tenha sido sanado parcialmente, alguns especialistas
calculam que outros efeitos serão notados nos próximos anos.
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Figura 03: Cavalo-marinho-anão:
vulnerável por seu pequeno tamanho, hábitat limitado, dificuldade para migrar e
baixa natalidade. (FONTE: Scientific American Brasil).
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Outro episódio recentemente divulgado sobre essa problemática refere-se à famosa Barreira de Corais da Austrália. Pesquisas alarmaram que houve uma perda de mais da metade dos corais em apenas três décadas, em decorrência de fatores como tempestades, depredação e mudanças climáticas. E como diz o velho ditado: “Antes tarde do que nunca”, a Austrália tem hoje uma rede de reservas marinhas que protege mais de 2,3 milhões de km² de oceano ao redor do país, o que é considerado hoje como o maior sistema de proteção do mundo.
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Figura 04: Coral
encontrado na Grande Barreira, localizado no litoral da Austrália (FONTE: G1
Natureza, 2012)
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Já passou da hora de assumir como fato o risco que as nossas ações podem oferecer à biodiversidade do planeta. O aumento populacional, a pesca insustentável, redução dos recursos hídricos, invasão biológica e demais impactos ambientais podem ser cruciais no processo de desaparecimento das espécies. Muitas pessoas nem sequer conhecem os magníficos seres que habitam nossos mares e, por isso, não possuem a sensibilização quanto à conservação. Conferências, debates e a utilização de atividades de Educação Ambiental, como, por exemplo, a implantação de ONG’s, podem ascender uma luz em meio a tanta devastação. É preciso sim falar, mais acima de tudo agir. Viver em harmonia com a natureza, talvez seja o grande desafio de uma sociedade em repleta expansão, o que se torna uma tarefa difícil, mas não impossível, - basta querer. Isso remonta a um trecho de uma canção brasileira:
“Havia tanto pra lhe mostrar
Era tão belo
Mas olhe agora o estrago em que está...
Sujamos rios, dependemos das águas
Tanto faz os meios violentos [....]
Cores, tantas cores
Tais belezas
Foram-se!
Com isso, a reflexão que fica é: pequenas ações podem fazer a diferença para o bem ou para o mal. Então, de qual lado você vai querer ficar?