Acredito que grande parte da população
maranhense, brasileira e até mesmo mundial sabe que o Rio Amazonas é o maior
rio do mundo em termos de drenagem hídrica. Esse imenso corpo d’água tem
aproximadamente 6.990km de extensão e drena 209.000 m³ de água a cada segundo.
É senso comum que todo rio desagua no mar, mas qual seria o efeito dessa enorme
quantidade de água doce para o oceano?
Alguns pesquisadores da década de 70
descobriram que a fauna de peixes do caribe e da região de transição
Norte/Nordeste do Brasil era bastante distinta e sugeriram que o despejo de
água do Amazonas no oceano causaria uma barreira geográfica para esses animais,
impedindo o fluxo entre as duas regiões. Seria mais ou menos como um mar de
água doce dentro do oceano. Dados genéticos para algumas espécies de recifes
também apontavam para a existência dessa barreira.
Entretanto, uma descoberta ainda mais
incrível e do mesmo momento cronológico mudou esse “consenso”. Bruce Collette e
Klaus Rützler, dois pesquisadores de Washington D. C. fizeram pesquisas ao
longo da região de desague do Amazonas com redes de arrasto de camarão. Eles
conseguiram coletar espécies que antes se acreditava serem restritas ao Caribe
e ao litoral nordeste do Brasil. Mas como elas conseguiram passar a famosa
barreira do Amazonas? Aí que vem a grande descoberta! Existe um “corredor” de
esponjas marinhas no fundo oceânico abaixo da carga de sedimentos e água doce
da foz do Amazonas! Touché!
As esponjas são muito importantes para a
composição da fauna marinha no mundo todo e, por isso, se tornaram uma espécie
de estrada para que muitas espécies de peixes conseguissem cruzar a barreira
hídrica. A explicação para isso é que a água doce não chega ao fundo oceânico
com tanta intensidade, mantendo a salinidade na faixa do 35%00. Infelizmente,
a ciência muitas vezes não dá o devido valor para alguns trabalhos muito
importantes. Essa descoberta passou despercebida por boa parte da comunidade
científica e até hoje eu acredito que seja assim.
Isso mostra o quão especial essas águas
barrentas e consideradas feias por muitas pessoas são. Alguns dos peixes que se
encontram no Maranhão fazem parte da fauna caribenha também e é por isso que
entender o padrão de distribuição das espécies é tão importante. Antes de
vangloriar regiões aquáticas com alta visibilidade e beleza de espécies, temos
que valorizar o nosso litoral norte e protege-lo também! Nem sempre o mais
agradável aos olhos é o mais interessante.
Por: Leonardo Manir Feitosa
Baseado em: Collete, B. B. & Rützler, K. Reef fishes over sponge bottoms off the mouth of the Amazon River.Third International Coral Reef Simposium, 305-310, 1977.
Rocha, L. A. & Rosa, I. L. Baseline assessment of reef fish assemblages of Parcel Manuel Luiz Marine State Park, Maranhão, north-east Brazil. Journal of Fish Biology, 58, 985-998, 2001.
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